6 de Novembro de 2018 | 12h32
Em 10 de outubro, a Unimed Sorocaba promoveu o Simpósio de Espiritualidade, Medicina e Saúde. O encontro aconteceu no auditório do Jornal Cruzeiro do Sul e reuniu diretores, cooperados, colaboradores e público em geral. Os temas abordados foram “O conceito da espiritualidade e sua interface com a medicina”, pelo médico Valdir Reginato, e “A espiritualidade do profissional de saúde”, pelo também médico Felipe Moraes Toledo Pereira. A abertura do evento foi realizada pelo presidente da Cooperativa, José Francisco Moron Morad. Ele saudou os presentes e indicou que a espiritualidade está em evidência desde os anos 90 nos cursos de Medicina nos Estados Unidos. “No Brasil, ela ganhou mais espaço na década seguinte, com a conexão entre saúde, espiritualidade e religião”, explicou. “O interesse por essa conjunção tem ganhado destaque nas ciências médicas pelos notáveis efeitos que causa na saúde e na doença”, enfatizou. Ainda em sua apresentação, Moron ressaltou que, nos dias atuais, é possível reconhecer o crescente número de publicações, depoimentos e evidências científicas sobre as implicações positivas de ações ligadas à assistência espiritual. “Religiosidade e espiritualidade são elementos significativos na vida da maioria dos indivíduos. Elas têm uma função importante no enfrentamento de um período de crise”, afirmou. “Em razão disso, os serviços de saúde devem oferecer e atender aos interesses religiosos dos seus pacientes, de modo que isso possa ser usado como aliado à assistência à saúde”, finalizou. Valdir Reginato agradeceu pelo convite da Unimed Sorocaba para vir à cidade e analisou: “Tenho certeza de que a escolha por este tema mostra sua relevância, a partir das pesquisas realizadas no EUA e sobre como o assunto vem se desenvolvendo no Brasil”. Ele citou parte da obra literária “O livro das religiões”, de Jostein Gaarder, Victor Hellern e Henry Notaker: “A maioria das religiões acredita que o homem foi criado por Deus e que suas origens são divinas. Nesse contexto, com frequência, se fala de alma do homem, termo que tem conotações diferentes em culturas diversas. Costuma-se apresentar a alma em contraste com o corpo. Muitas religiões mostram um dualismo, ensinando que o corpo é temporal, e a alma, divina.” Mais adiante, Reginato apontou o fato de que o homem é o único ser com a capacidade de questionar “quem sou eu?”. Ele disse: “O nosso corpo pensa, questiona-se dentro do seu raciocínio, como nenhum outro animal pode fazer. Durante muitos anos, a Organização Mundial da Saúde falou que éramos seres psíquicos e sociais. Mas, recentemente, ela acrescentou que temos uma dimensão espiritual”. O médico prosseguiu: “O homem é um ser de passagem; é necessário que ele vá a algum lugar. Essa dimensão é a transcendência espiritual. Com isso, entra a espiritualidade, que pertence ao ser humano. A religião é uma opção. Estas são coisas conceitualmente diferentes. Todo os seres humanos são espiritualizados, mas nem todos têm uma religião”. Ele afirmou que, quando a doença acomete o paciente e não há mais recursos na área da saúde, desponta um ato de fé. “Ela surge no ser humano desde o começo da sua história. Porém, onde ela está em nossa anatomia?”, perguntou. O palestrante lembrou que, há 400 anos, René Descartes pronunciou: “Vamos olhar o corpo como uma máquina e deixar essa história de fé para a Igreja”. Com isso, observou Reginato, “o médico realmente começou a olhar para o corpo como uma máquina e o espírito foi deixado para o clero”. “Evidentemente, cada paciente tem as suas as crenças. Nós, profissionais da saúde, devemos entender o caminho que ele escolhe para buscar o sentido divino. Precisamos aprender a respeitá-lo e não interferir, pois cabe a nós dar esperança, acolher e encontrar um sentido que o auxilie a passar por aquele momento difícil.” Para Felipe Moraes, o tema da espiritualidade vem se adensando entre a população. “Quando comecei a refletir a respeito, o que eu ouvia com frequência é que ele era algo bonito, mas as pessoas não sabiam como incorporá-lo na prática. É isso o que trago hoje para ser discutido.”“A questão da espiritualidade tem a ver com o modelo assistencial que cada profissional escolhe. Cuidar das pessoas é adotar um modelo holístico de assistência, é buscar restaurá-las como um todo e levantá-las da sua fragilidade. Além disso, trata-se de um exercício de compaixão. Afinal, muitas vezes, não cuidamos dos dilemas espirituais dos outros porque não estamos aptos a lidar com os nossos”, ponderou. Felipe ainda esclareceu que é fundamental incluir a espiritualidade na assistência de forma sistemática, organizada e objetiva. “A anamnese espiritual é compreendida como um processo de investigação sobre a percepção das crenças e valores de um indivíduo, assim como o significado que ele atribui à fé, à vida e à espiritualidade e como isso poderá influenciar em sua saúde e no modo de ser cuidado”, concluiu.