2 de Maio de 2013 | 00h00
No último dia 5 de abril, na UTI Adulto do Hospital Unimed Sorocaba (HUS), o protocolo de hipotermia terapêutica pós-parada cardíaca foi utilizado pela primeira vez em Sorocaba.
A série de condutas e manobras que compõem este procedimento é preconizada pela Sociedade Norte Americana de Cardiologia como uma das diretrizes para o tratamento complementar pós-ocorrência de paradas cardíacas originária de causas cardíacas.
A paciente era do sexo feminino, tinha 76 anos de idade e havia sofrido uma parada cardíaca durante um cateterismo diagnóstico que terminou por se converter em cateterismo terapêutico, com realização de angioplastia coronariana. Seu estado clínico atual é considerado altamente satisfatório.
A decisão de aplicar pela primeira vez o protocolo foi tomada pela equipe da UTI e da Cardiologia Intervencionista do HUS, por conta dos parâmetros neurológicos da paciente, que evidenciavam o risco de sequelas cerebrais iminentes. “Ela tinha permanecido em estado de parada cardíaca por tempo prolongado e, por isso, decidimos imediatamente pela abertura e inclusão da mesma no protocolo de hipotermia terapêutica”, revela o médico intensivista e coordenador da UTI Adulto do HUS, Setembrino Ferraz Júnior.
“Nessa assistência, os pacientes são resfriados à meta de temperatura central de 32°C e mantidos rigorosamente dentro desse valor por meio de medidas específicas e controladas rigorosamente, durante 18 horas, com reaquecimento passivo no final desse prazo”, explica o coordenador da UTI Adulto do HUS. Segundo ele, o caso era muito grave e havia risco elevado de morte da paciente.
Quando chegou à UTI, a paciente tinha condições instáveis. “Após o término do protocolo, promoveu-se o reaquecimento passivo e pudemos perceber sua plena recuperação neurológica”, comemora Setembrino. O melhor é que não foram identificadas sequelas neurológicas graves – algo praticamente inevitável, caso o protocolo não tivesse sido adotado. “Sua condição cardiológica está muito boa, com manutenção dos dados vitais, sem insuficiências orgânicas importantes. Ela, inclusive, já conversa com seus familiares”, conta.
A hipotermia se verifica quando a temperatura corporal fica abaixo do normal, exaurindo rapidamente os mecanismos reguladores cutâneos e nervosos. O resfriamento do sistema nervoso central, por exemplo, leva à supressão de alguns controles cerebrais; mais precisamente, do hipotálamo. Os fins terapêuticos da hipotermia são conhecidos desde o século 18. Alguns estudos classificam como hipotermia leve temperaturas corporais entre 32ºC e 34ºC; moderada entre 28ºC e 32ºC; e profunda, abaixo de 28ºC. Alguns autores, porém, definem a hipotermia profunda somente abaixo dos 26ºC. Outros, quando estão abaixo de 32°C.
Segundo Setembrino, o protocolo aplicado prevê que pacientes vitimas de parada cardíaca pré-hospitalar de causa cardíaca e reanimados com sucesso, mas que chegam ao hospital em coma, podem ser submetidos à hipotermia terapêutica. “É uma forma de proteção contra os danos no sistema nervoso central causados pela hipoxemia (redução da taxa de oxigênio)”, explica. “De acordo com dados da literatura, esse beneficio neurológico pode se estender a pacientes vítimas de parada cardiorrespiratória de causas cardíacas também ocorridas dentro do hospital.”
Atualmente, a hipotermia terapêutica é o melhor recurso para tratamento dessa situação de parada circulatória cerebral. “Seu efeito protetor da redução da temperatura cerebral nesses pacientes é universalmente comprovado”, afirma o coordenador da UTI Adulto do HUS. Segundo ele, o principal benefício da reanimação em uma parada cardíaca é a preservação da viabilidade cerebral, que sofre com a falta de irrigação sanguínea, não suportando tempo de desoxigenação além de, aproximadamente, três minutos. “Infelizmente, muitas vezes, contingências variadas nos impedem de lançar mão dessa ferramenta terapêutica tão importante.”
Para colocar em prática do protocolo, a equipe multiprofissional e multidisciplinar da UTI Adulto do HUS passa por constante treinamento e programas de capacitação. Esse ano já foi realizado o curso de aprimoramento em Terapia Intensiva, conforme formato da Sociedade Norte Americana de Cardiologia, o chamado FCCS, aos médicos da UTI e Emergência da cooperativa, “Somente uma equipe muito bem treinada poderia ter êxito na reversão de uma situação clinica como a que enfrentou a paciente em questão”, destaca Setembrino. “É importante ressaltar a assistência do hemodinamicista Vitor Dutra, e do anestesista Tadau, que realizaram a angioplastia, assistência anestesiológica e a reanimação cardiopulmonar cerebral.”
Fonte: SZS Assessoria de Imprensa