26 de Setembro de 2012 | 00h00
O foco da pesquisa era conhecer mais sobre a influência desse meio na formação dos bebês, tendo como base a importância do vínculo entre os pais e seus filhos na constituição do psiquismo do recém-nascido.
Durante, aproximadamente, dez anos, a psicóloga Mariza Inglez Stillitano de Souza avaliou, classificou, acompanhou e tabulou diversos aspectos das relações envolvendo os profissionais que atuam na UTI Neonatal e Pediátrica do Hospital Unimed Sorocaba (HUS), os pacientes internados e os pais dessas crianças.
O estudo está publicado em um dos capítulos do livro “Looking and listening: understanding emotional growth – Psychoanalytic approaches from infancy to adolescence”, lançado na Inglaterra há algumas semanas pela editora Kaniac, e será apresentado no Congresso Nacional entre os dias 6 e 8 de novembro, durante a “5ª Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz”, que contará com a presença de senadores; deputados federais e estaduais; representantes da Presidência da República, do Executivo nas áreas de Educação, Saúde, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos; professores e universitários das áreas afins; profissionais da imprensa; membros de organizações não governamentais e instituições da sociedade civil.
Para muitos psicólogos, a interação mãe-bebê é basal na construção das relações que se estabelecerão por toda a vida do indivíduo. Por outro lado, todos concordam que esse vínculo e as experiências vividas nos primeiros meses de vida são fundamentais para a estruturação da mente e para a organização do psiquismo. Aliás, o desenvolvimento psíquico deve muito às experiências emocionais vividas nos primeiros meses. O estudo dirigido por Mariza Inglez ampliou o vínculo para as relações entre os pais – e não somente as mães – e seus bebês.
“Esta pesquisa só foi possível porque contamos com o apoio irrestrito da Diretoria Executiva da Unimed Sorocaba, da Diretoria Clínica, da Coordenação e da equipe da UTI Neonatal e Pediátrica do Hospital Unimed Sorocaba”, menciona Mariza Inglez. “Os médicos e demais profissionais que atuam no HUS são conscientes sobre a importância da qualidade desses vínculos emocionais e afetivos.”
É compreensível que, de vez em quando, os pais dos pacientes internados nas UTIs neonatais e pediátricas se instabilizem emocionalmente devido às angústias e expectativas. A tensão entre os profissionais que atuam nessas unidades também é rotineira e comum. “A junção dessas cargas emocionais, muitas vezes, desencadeia conflitos. A situação adversa de uma UTI Neonatal e Pediátrica, cenário de alta complexidade com sobrecarga emocional para todos os envolvidos (bebê, pais, médicos, enfermeiras, psicólogos, entre outros), revelou-se um campo extremamente fértil para a observação e a intervenção psicanalítica, além de extremamente carente de um tipo como este de continência e compreensão”, explica Mariza Inglez.
Deve-se entender que a preocupação basal da equipe médica é a manutenção da vida e o restabelecimento da saúde do paciente e que a família deste também quer a mesma coisa. O problema é adequar as “linguagens” que expressam o sentimento comum. Nessas situações, a ação dos terapeutas age como um sistema de amortecimento, seja ele preventivo ou corretivo. “Num ambiente conflituoso, as coisas deixam de fluir adequadamente”, alerta Mariza Inglez. “Quando as condições emocionais são boas, o ambiente torna-se saudável e a evolução dos bebês é melhor.”
Mariza Inglez conta que a angústia exagerada dos pais é capaz de interferir nos batimentos cardíacos dos bebês internados nas UTIs. “Até os prematuros reagem ao ambiente”, alerta. Ainda de acordo com a psicóloga, unidades de terapia intensiva harmônicas podem eliminar a necessidade de determinados exames, reduzir o tempo de internação e, consequentemente, os custos, sejam eles para a operadora do plano de saúde ou para a família.
O estudo também serviu de base para a tese de mestrado da psicóloga na PUC-SP e já foi apresentado em diversos congressos no Brasil e exterior. A internação de bebês em UTIs pode deixar marcas na formação do seu psíquico, sobretudo pelo fato de o vínculo natural que deve ser estabelecido com seus pais acabar sendo afetado – algumas vezes, de maneira drástica. “Para um bebê, o ambiente é muito importante”, resume. “Em situações de internação em UTIs, além dos pais, a equipe médica e de cuidadores integra esse universo. Por isso, é fundamental observá-los.”
A psicóloga destaca que alguns dos principais pontos alcançados pelo estudo foram a construção do vínculo pais-bebê e equipe-bebê; sua representatividade na formação da mente da criança e a passagem de uma relação angustiada para uma relação afetiva e uma escuta sensível das comunicações corporais do bebê.
“A junção dos cuidados médicos corporais com o respeito ao sofrimento da criança e às suas características particulares constituiu uma primeira abordagem simultânea do corpo e da mente do bebê. As situações iniciais de vida são extremamente complexas e importantes, como sabemos, mas nem sempre existe um serviço de diagnóstico precoce e apoio a esse momento da vida. Na UTI, é claro que essa situação se torna aguda, mas isso somente revela que, mesmo nos casos menos graves, a intervenção precoce pode rapidamente desfazer complicações iniciais que, caso contrário, podem se tornar sintomas muito mais sérios no vínculo mãe-bebê”, finaliza Mariza Inglez.
Fonte: SZS Assessoria de Imprensa